“O fogo o escolheu, mas ainda não decidiu se gosta dele”.
Talvez fosse apenas mais um mago medíocre. Ou talvez só estivesse esperando o momento certo para se tornar algo estranho demais para ser ignorado. Jovem demais para falar com tanta cautela, e velho demais para ainda tropeçar nos próprios feitiços. Possui um jeito de quem parece ouvir o mundo cochichar.
Ninguém sabia dizer ao certo se “Flameveil” era um sobrenome verdadeiro ou apenas uma palavra bonita que ele mesmo escolhera. Cefeu dizia pouco sobre si, e quando dizia, as frases vinham como fumaça: retorcidas, leves, escapando pelas bordas da compreensão. Seus olhos não ardiam como os de um piromante, tampouco traziam a serenidade de um mago veterano. Eram inquietos, sempre vasculhando — o teto, os livros, as janelas, os outros.
"Enquanto os outros conjuravam, ele murmurava. Enquanto os outros queimavam, ele fumegava."
Estudou magia na torre da serpentina, como tantos outros, mas sem distinção. Os mestres o toleravam, raramente o elogiavam. Era mais comum vê-lo à margem das aulas do que em destaque. Enquanto os demais conjuravam feitiços com precisão, Cefeu parecia conversar com as cinzas, tentando convencer o fogo a ouvi-lo. Nunca funcionava duas vezes do mesmo jeito.
Fora da torre, em Ankrahmun, era visto como um estranho. Não pela roupa, que era sempre limpa, nem pelo jeito calado, mas por uma impressão difícil de descrever — como uma estátua que parece olhar de volta, ou um espelho que demora a devolver o reflexo.
Apesar dos tropeços, Tothdral nunca o expulsou. Talvez visse nele o que ninguém mais via. Ou talvez estivesse apenas curioso para saber onde daria aquele erro cintilante, aquele quase-mago que falava com sombras e andava como se o chão lhe contasse segredos.
"Para si mesmo, Cefeu ainda é só uma pergunta não respondida. Mas às vezes, bem no fundo, ele acha que é a resposta de algo que o mundo ainda não perguntou."
Nos mercados, fingia procurar ingredientes. Na verdade, tentava ouvir as vozes abafadas atrás das tendas. Uma delas falava em “fronteiras do real”. Ele fingiu não ouvir. Mas anotou. Dormiu mal alguns dias. Começou a sonhar com mapas feitos de ossos, com livros que mudam o texto quando ninguém está lendo. E com a manasfera. Sempre ela, como se a palavra tivesse raízes nas frestas da cidade. Tentou desenhá-la de novo. Pior que antes. Um borrão de tinta com pontos ao redor. Mas algo o incomodava: o borrão parecia de alguma forma uma janela. Ou um olho.“Se tudo está escrito, por que ainda parece tão inacabado?”
“Talvez o mundo não esteja me escondendo as respostas que eu preciso. Talvez esteja tentando me dar perguntas melhores.”
Desde então, anda mais devagar. Olha para cima às vezes, como se esperasse algo cair. Ou voltar. E ontem, quando passou pelo portão leste, parou. A areia ali não se movia.
Cefeu apenas disse:
- Ela está ali esperando. Seja lá o que for.
E continuou andando.
Agora, busca ficar acima de Ankrahmun. Literalmente. Medita sobre as pirâmides, quando consegue acesso. Observa de lá o movimento das ruas e seus viajantes peculiares. Não como quem vigia, mas como quem tenta entender de onde vêm as histórias antes de se tornarem histórias.
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