Capinar, semear, regar e colher. Desde pequena, Lola recusou a vida
camponesa que os pais lhe reservavam. Não porque tinha vergonha de sua
profissão - em uma vila recatada como Fibula, todos eram ou camponeses
ou cuidavam de uma horta. Mas quando pequena, na Grande Feira Regional,
ela teve a ocasião de ver damas, baronesas e condessas desfilando pelas
ruas, e se maravilhou. Queria ser uma delas, alguém que não precisasse
sujar suas mãos de terra para sobreviver.
De nascimento baixo, ela
certamente não poderia esperar um casamento com um fidalgo, e conquistar
a nobreza por si mesma como uma aventureira estava fora de questão. Por
intermédio da Associação dos Bons Maridos de Fibula, conseguiu um
emprego respeitável na casa de uma burguesa viúva. Passou a maior parte
da sua infância trabalhando em sua residência, se tornando praticamente
um membro da família, quase se passando por uma prima distante de sua
senhora.
Quem sabe onde os ventos nos levam? Numa manhã de outono,
quando sua senhora não acordou, Lola soube. A casa se encheu de padres,
comerciantes, familiares distantes... e a constatação de que não se
precisaria mais de Lola, que a serviu lealmente em seus últimos dias.
Partiu de sua casa com as bagagens nas mãos e os olhos cheios de
lágrimas.
Lola tem o rosto agradável sobre o qual os olhares se
demoram. Sua fala é carregada de sabedoria popular, e sua escrita não
tem floreios. Seu corpo é imbuído da firmeza e beleza de uma jovem de 22
anos; ela tem os olhos tristes de quem já tomou decisões erradas.
Os
tempos são difíceis para as mulheres. Prostitutas, esposas ou freiras -
pegar ou largar, eis as três opções que os homens lhes dão. Felizmente
há Lola, uma folha carregada pelo vento, oscilando entre a santidade e a
blasfêmia, aprendendo a ver o mundo de seu modo singular.