É difícil descrever Sigeberto, quarto filho de Jerônimo, o moleiro de Greenshore. Seu rosto tinha a forma indistinta dos homens de Thais - cabelos negros, olhos castanhos, pele que o sol e a farinha tingiram de um tom indefinido. Era o tipo de semblante que um monge pintaria numa iluminura para representar um camponês - não por malícia, mas por falta de inspiração. Se houvesse nele uma gota de sangue nobre, um bastardo escondido de algum fidalgo leviano, talvez tivesse herdado traços cosmopolitas. Se vestisse a bata de um padre, ou usasse o chapéu de um mercador, talvez fosse notado. Mas não. Seu rosto era... apenas um rosto.
Não era feio, tampouco bonito. Seu nariz não era grande nem pequeno, e sua voz tinha o tom morno de um campo à meia-tarde. As mãos, calejadas pela pedra do moinho, eram firmes. Era o tipo de homem que se vê no mercado e se esquece antes mesmo de chegar à outra barraca. Os condes esqueciam de alistá-lo, os cobradores de imposto o confundiam com seu irmão, e os padres chamavam pelo nome errado na missa.
Mas havia em Sigeberto algo que escapava à vista. Não era uma promessa, nem um segredo, mas um potencial latente, qual semente antes da chuva. Ele olhava os pombos no telhado como quem tenta lembrar uma música esquecida. E, às vezes, demorava a responder, como se cada palavra merecesse ser escolhida com cuidado, mesmo quando ninguém pedia por isso. Por dentro, talvez fosse um livro nunca aberto. Por fora, era só Sigeberto, o quarto filho do moleiro. E isso bastava.
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